Quando a Justiça Pessoal Quer Tomar o Lugar da Graça
- Antonio Jorge Béze
- 14 de abr.
- 4 min de leitura
Quantas vezes já caminhamos lado a lado com alguém, investimos tempo, amor e confiança, e, de repente, sem aviso, a pessoa muda. Decepciona. Esfria. Deixa de ser quem foi um dia conosco. Isso nos desarma. Nos faz olhar para dentro e nos perguntar:
“Será que eu errei?
Será que fiz demais ou de menos?”
Nessas horas, a vontade humana de retribuir na mesma moeda, de endurecer o coração, de ajustar a balança da justiça com as próprias mãos, é quase inevitável.
O problema é que, quando deixamos que nossa percepção de justiça tome o lugar da graça de Deus, o risco é enorme: nos afastamos do padrão do Evangelho.
Jesus sabia bem o que era a ingratidão. Seus próprios discípulos falharam com Ele nos momentos cruciais. Pedro O negou, Judas O traiu, e a multidão que antes O seguia gritou “Crucifica-o!”. E mesmo assim, o Cordeiro Santo, sem culpa ou mácula, estendeu a mão ensanguentada na cruz e orou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Isso é justiça com graça. Isso é um amor que vai além da decepção e nos constrange a agir diferente do mundo.
A Palavra nos dá um mandamento simples, mas de execução complexa: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (João 13:34). Aqui, Jesus não nos chama a amar quando for conveniente, ou enquanto o outro nos tratar bem. Ele nos chama a amar “assim como eu vos amei”, e sabemos que Ele nos amou mesmo quando nós mesmos O traímos com nossos pecados. Como disse Agostinho de Hipona:
“Ama e faze o que quiseres; porque se amares de verdade, não farás nada contrário ao amor.”
O ponto mais sensível nessa jornada é quando queremos agir de maneira justa, mas esquecemos que, muitas vezes, nosso senso de justiça é limitado, enviesado por emoções e feridas. A nossa justiça pessoal pode ser contaminada pela mágoa, pela autoproteção, e pelo desejo humano de ver o outro ‘aprender a lição’. Por isso, orar para que os olhos de justiça sejam os olhos do Senhor através de nós é um dos passos mais elevados da maturidade cristã. Quando pedimos a Deus que Sua justiça, e não a nossa, guie nossas atitudes, reconhecemos que somos trapos de imundície (Isaías 64:6) e precisamos depender totalmente da graça d’Ele para reagirmos à altura do chamado.
Se você tem se sentido cansado de perdoar rápido enquanto julga com a mesma velocidade, saiba que essa luta é comum a todos os que buscam viver como Jesus. A vigilância constante é o único caminho. É olhar para o outro com misericórdia, mas sem ser ingênuo; é ser justo, mas sempre temperado pela compaixão. Como nos ensina John Stott:
“O cristão é chamado a ser uma combinação paradoxal de humildade e firmeza; mansidão e coragem; graça e verdade.”
E é nessa vigilância diária, nesse autopoliciamento espiritual, que somos moldados à semelhança de Cristo. A cada decepção, temos a escolha: ou endurecemos e distanciamos nossos olhos de Deus, ou nos quebrantamos e deixamos que Ele aja por meio de nós. Que Ele cresça e nós diminuamos.
📖 Momento Devocional - Estudo e Prática
Leitura Bíblica:
João 13:34-35
Isaías 64:6
Lucas 23:34
Reflexão Escrita:
• Você tem tentado praticar a justiça com os seus próprios critérios ou tem deixado Deus guiar sua percepção sobre as pessoas?
• Em quais situações recentes você percebe que agiu com mais julgamento do que com perdão?
Oração Pessoal:
Peça a Deus que molde seu coração para que Ele cresça e você diminua, dando a você um olhar mais parecido com o de Cristo.
Ação Prática:
Durante esta semana, tome uma decisão concreta: ao invés de responder uma decepção com julgamento ou afastamento, responda com intercessão. Ore pela pessoa que te feriu e, se possível, demonstre graça em uma ação prática.
Oração Final
Senhor amado, quantas vezes somos rápidos para julgar e lentos para perdoar. Sabemos que, por nós mesmos, não conseguimos amar como o Senhor amou, nem agir com a justiça perfeita que vem de Ti. Ajuda-nos a abandonar nossa justiça própria e nos revestir da Tua graça. Que nossos olhos vejam o próximo como o Senhor vê, e que o nosso coração seja rápido para perdoar, como o Senhor é conosco. Molda-nos, Espírito Santo, para que Cristo seja visto em nós, em nossas palavras e atitudes. Não permita que a decepção nos afaste da obediência e da vigilância. Queremos permanecer firmes, com olhos atentos e corações compassivos.
Em nome de Jesus Cristo, amém e amém.
Versículos de Apoio
1. Mateus 5:44 – “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.”
2. Romanos 12:19 – “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: Minha é a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.”
3. Colossenses 3:13 – “Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.”
4. Tiago 1:20 – “Pois a ira do homem não produz a justiça de Deus.”
5. Salmos 37:6 – “Ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo, como o meio-dia.”
6. Efésios 4:31-32 – “Longe de vós toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmia, e toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.”
7. Provérbios 4:23 – “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.”
Hoje eu precisava ler isso…