O Salmo de Ezequias: Quando a Cura Não Vira Legado
- Antonio Jorge Béze
- há 5 dias
- 4 min de leitura
1. Introdução
“Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?”
(Salmo 116:12 – ARA)
Poucas palavras expressam com tanta pureza a alma de alguém que foi salvo da morte. Segundo alguns comentaristas clássicos e tradições rabínicas, esse salmo é mais do que um poema anônimo: ele seria, muito possivelmente, o cântico do rei Ezequias, escrito após sua cura milagrosa, conforme registrada em Isaías 38:9–20.
O paralelismo é impressionante. Ambos os textos falam de uma enfermidade mortal, de oração sincera, de livramento pela graça de Deus, e de um voto espiritual: viver para louvar ao Senhor.
Neste devocional, vamos mergulhar na experiência de Ezequias — sua oração, sua cura, e seu salmo — para extrair lições preciosas sobre gratidão, legado e responsabilidade diante do tempo extra que Deus nos dá.
Gratidão em Forma de Poesia: Um Salmo Nascido da Dor
“Tu livraste da morte a minha alma, das lágrimas os meus olhos, da queda os meus pés.”
(Salmo 116:8)
“Tu lançaste para trás das tuas costas todos os meus pecados.”
(Isaías 38:17)
Tanto o Salmo 116 quanto Isaías 38 revelam um coração quebrantado que viu a morte de perto. Ezequias havia recebido a sentença do próprio profeta Isaías: “Põe em ordem a tua casa, porque morrerás.” (2 Reis 20:1)
Mas ele orou. Chorou. Suplicou. E Deus o ouviu. Acrescentou-lhe 15 anos de vida.
Foi nesse contexto que, segundo muitos intérpretes conservadores, nasceu o Salmo 116 — uma confissão de gratidão, rendição e votos.
“Andarei na presença do Senhor, na terra dos viventes.”
(Salmo 116:9)
A oração não era apenas por alívio; era por recomeço. O clamor não era apenas por vida; era por sentido. Mas a história não termina aí.
Tempo Novo, Mas Sem Transformação Duradoura
Receber mais tempo deveria ser um chamado à vigilância. Mas logo após o milagre, Ezequias comete um erro fatal: abre as portas do palácio para os embaixadores da Babilônia, exibindo seus tesouros (2 Reis 20:13).
Era hora de exaltar o Deus que o curou — mas ele preferiu exaltar sua glória.
Essa falha gera uma das profecias mais duras que um rei já ouviu:
“Dias virão em que tudo o que houver em tua casa será levado para a Babilônia.”
(2 Reis 20:17)
Ezequias cantou um salmo. Mas não consolidou um legado. Teve 15 anos extras, mas não arrumou a casa.
O próprio texto profético nos alerta: ele não preparou o coração da próxima geração.
A Paz do Presente e a Negligência do Futuro
A resposta de Ezequias à profecia é alarmante:
“Boa é a palavra do Senhor […] porque haverá paz e segurança em meus dias.”
(2 Reis 20:19)
Ele aceita o juízo desde que não o atinja pessoalmente.
E é exatamente nesse tempo adicional que nasce seu filho, Manassés, que se tornaria o rei mais ímpio da história de Judá, introduzindo idolatria, derramamento de sangue e perversão espiritual no templo do Senhor (2 Reis 21:1-6).
O rei que compôs o mais belo salmo de gratidão não discipulou seu herdeiro.
O homem que andaria “na presença do Senhor” não preparou sucessores para andar também.
Parafraseando John Maxwell:
“Sucesso sem sucessores é apenas egoísmo com maquiagem espiritual.”
Quando a Voz que Louva se Cala na Obediência
O salmo de Ezequias nos emociona — mas sua história nos confronta. Ele foi curado. Mas não mudou.
Foi grato, mas não vigilante.
Cantou, mas não cultivou.
A grande pergunta — “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios?” — não pode ter resposta apenas poética. Ela exige entrega, vigilância, discipulado e obediência.
Ezequias representa muitos de nós: tocados pela graça, mas seduzidos pela vaidade.
Salvos pela oração, mas perdidos pela omissão.
Fortes na dor, fracos no conforto.
6. Conclusão
Ezequias, rei de Judá, pode ter escrito o Salmo 116. Mas não viveu à altura de sua própria poesia.
Seu cântico é sincero. Sua oração é poderosa. Mas seu legado é trágico.
Hoje, Deus te chama para ir além do louvor. Para transformar cada milagre em missão.
Cada alívio em consagração.
Cada segundo a mais em vida que deixa marcas.
Você já perguntou: “Que darei ao Senhor?”
Então responda com obediência, discipulado e legado.
7. Oração Final
Senhor,
Tu me livraste tantas vezes. Das lágrimas, da morte, do pecado. Tenho razões de sobra para cantar como Ezequias: “Que darei ao Senhor?”
Mas que minha resposta não seja apenas um salmo bonito — que seja uma vida rendida.
Livra-me da vaidade, da distração, da omissão.
Dá-me um coração que vigia depois de ser curado.
Que ama depois de ser salvo.
Que deixa legado depois de receber tempo.
Ensina-me a arrumar minha casa enquanto há tempo.
E a preparar a próxima geração para Te amar.
Em nome de Jesus Cristo, amém e amém.
8. Agora é com Você e Deus
📖 Leitura / Reflexão
Isaías 38:9–20 e Salmo 116 – leia como se fossem capítulos de um mesmo cântico de fé, e veja onde sua vida se encaixa nessa melodia.
🛠️ Ação Prática
Escreva uma oração pessoal como Ezequias. Mas depois, tome uma atitude: discipule alguém, corrija um caminho, prepare um legado.
📜 Versículo para Meditação
“Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?”
(Salmo 116:12 – ARA)
💬 Mensagem
O salmo é bonito. Mas é o legado que testifica.
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